Omolu/ Omulú é o Orixá Cósmico assentado no pólo negativo (absorvedor) da Linha da Geração, que é a sétima Linha de Umbanda, onde polariza com o Orixá Universal Yemanjá
É o orixá que rege a morte, ou no instante da passagem do plano material para o plano espiritual (desencarne)
É com tristeza que temos visto o temor dos irmãos umbandistas quando é mencionado o nome do nosso amado Pai Omulu. E no entanto descobrimos que este medo é um dos frutos amargos que nos foram legados pelos ancestrais semeadores dos orixás em solo brasileiro, pois difundiram só os dois extremos do mais caridoso dos orixás, já que Omulu é o guardião divino dos espíritos caídos. O orixá Omulu guarda para Olorum todos os espíritos que fraquejaram durante sua jornada carnal e entregaram-se à vivenciação de seus vícios emocionais. Mas ele não pune ou castiga ninguém, pois estas ações são atributos da Lei Divina, que também não pune ou castiga. Ela apenas conduz cada um ao seu devido lugar após o desencarne. E se alguém semeou ventos, que colha sua tempestade pessoal, mas amparado pela própria Lei, que o recolhe a um dos sete domínios negativos, todos regidos pelos orixás cósmicos, que são magneticamente negativos. E Tatá Omulu é um desses guardiões divinos que consagrou a si e à sua existência, enquanto divindade, ao amparo dos espíritos caídos perante as leis que dão sustentação a todas as manifestações da vida..
Esta qualidade divina do nosso amado pai foi interpretada de forma incorreta ou incompleta, e o que definiram no decorrer dos séculos foi que Tatá Omulu é um dos orixás mais “perigosos” de se lidar, ou um dos mais intolerantes, e isto quando não o descrevem como implacável nas suas punições.
Ele, na linha da Geração, que é a sétima linha de Umbanda, forma um par energético, magnético e vibratório com nossa amada mãe Yemanjá, onde ela gera a vida e ele paralisa os seres que atentam contra os princípios que dão sustentação às manifestações da vida. Em Tatá Omulu descobri o amor de Olorum, pois é por puro amor que uma divindade consagra-se por inteiro ao amparo dos espíritos caídos. E foi por amor a nós que ele assumiu a incumbência de nos paralisar em seus domínios, sempre que começássemos a atentar contra os princípios da vida. Enquanto a nossa mãe Yemanjá estimula em nós a geração, o nosso pai Omulu nos paralisa sempre que desvirtuamos os atos geradores.
o Orixá Omolu paralisa tudo aquilo que atenta contra os Sentidos da Vida. É a Presença de DEUS garantindo a Vida e a Geração. É a profundidade da terra. As Irradiações do Sagrado Pai Omolu garantem o equilíbrio da Criação, pois atraem para o Seu campo Cósmico todos os seres que se desequilibraram e passaram a atuar de forma desvirtuada, atentando contra qualquer dos Sentidos da Vida. O magnetismo de Omolu é absorvente e Suas ondas são alternadas.
Mas Omolu não traz a morte, como alguns parecem imaginar. Na verdade, Ele representa “a morte” daquilo que atenta contra o Sentido da Vida e da Geração; o que é bem diferente. E Omolu também não traz a doença. Ele traz, sim, “a morte” da doença, do desequilíbrio e do vício, para viabilizar a restauração da saúde geral dos seres desvirtuados e desequilibrados (saúde espiritual, moral, mental, emocional e física).
Omolu representa “a morte” no sentido de trazer o fim a um estado de doença ou de desequilíbrio; e sempre para a preservação da Vida, no sentido mais elevado da palavra. Ele é um Orixá da Cura, portanto.
Quem age de má-fé para com o semelhante está “matando” a Fé no outro. Quem engana, trai ou age de forma negativa no campo do Amor está “matando” o Amor no outro. Quem usa do Conhecimento ou do dom da palavra para propagar mensagem mentirosa está divulgando a ignorância e “matando” o dom do Conhecimento. Quem é deliberadamente injusto para com o semelhante está “matando” o Sentido da Justiça. Quem de forma deliberada viola o direito do outro está “matando” o Sentido da Lei. Quem impede que o outro evolua está “matando” o Sentido da Evolução. Quem de alguma forma atenta contra a vida do semelhante está “matando” o Sentido da Geração. Tudo isso é atraído para o campo de Pai Omolu, que irá acionar o Seu Fator Paralisador sobre aquele ser desvirtuado, ativando uma de Suas Linhas de Esquerda, que será deslocada para “cobrar a dívida”. Não é raro que pessoas alcançadas por esta atuação acreditem “que “têm algum trabalho feito”, alguma “demanda” etc., esquecidas de que estão, isto sim, é respondendo perante a Lei e a Justiça Divinas pelos seus próprios atos.
O Mistério Omolu transcende a tudo, vai além do que possamos imaginar. Mas algumas lendas o limitaram a alguns de seus aspectos vistos como punitivos, tornando-o temido por muitos.
Se Omolu rege sobre o cemitério e sobre os espíritos dos mortos, é porque esses espíritos atentaram contra a vida ou algum dos seus Sentidos. Logo, só deve temê-LO quem proceder de forma desvirtuada.
“A cada um, segundo o seu merecimento”, diz a Lei Maior. E o Mistério Omolu aplica este princípio em seu aspecto negativo ou absorvedor. Ou seja, aplica-o quando o espírito atuou de forma desvirtuada e atraiu para si a força corretiva da Lei Maior, para então paralisar e esgotar seus vícios e desequilíbrios.
Podemos dizer: “A cada um, segundo seus atos”. Sendo positivos, que seus autores sejam conduzidos à Luz da Vida. Mas se foram negativos, que sejam levados para os sombrios domínios “da morte dos sentidos e dos sentimentos desvirtuadores da vida”.
Todos somos dotados dessa faculdade, já que todos somos multiplicadores da vida, seja em nós mesmos, através de nossa sexualidade seja nas idéias, através de nosso raciocínio, assim como geramos muitas coisas que tornam a vida uma verdadeira dádiva divina. Tatá Omulu, em seu pólo positivo, é o curador divino e tanto cura alma ferida quanto nosso corpo doente. Se orarmos a ele quando estivermos enfermos ele atuará em nosso corpo energético, nosso magnetismo, campo vibratório e sobre nosso corpo carnal, e tanto poderá curar-nos quanto nos conduzir a um médico que detectará de imediato a doença e receitaria medicação correta.
O Orixá Omulu atua em todos os seres humanos, independente de qual,. seja a sua religião. Mas esta atuação geral e planetária processa-se através de, uma faixa vibratória especifica e exclusiva, pois é através dela que fluem as irradiações divinas de um dos mistérios de Deus, que nominamos de “Mistério da Morte”. Tatá Omulu, enquanto força cósmica e mistério divino, é a energia que se condensa em torno do fio de prata que une o espírito e seu corpo físico, e o dissolve no momento do desencarne ou passagem de um plano para o outro.
Neste caso ele não se apresenta como o espectro da morte coberto com manto e capuz negro, empunhando o alfanje da morte que corta o fio da vida. Esta descrição é apenas uma forma simbólica ou estilizada de se descrever a força divina que ceifa a vida na carne. Na verdade, a energia que rompe o fio da vida na carne é de cor escura, e tanto pode parti-lo num piscar de olhos quando a morte é natural e fulminante, como pode ir se condensando em torno dele, envolvendo-o todo até alcançar o espírito, que já entrou em desarmonia vibratória porque a passagem deve ser lenta, induzindo o ser a aceitar seu desencarne de forma passiva.
O orixá Omulu atua em todas as religiões e em algumas é nominado de “Anjo da Morte” e em outras de divindade ou “Senhor dos Mortos”. No antigo Egito ele foi muito cultuado e difundido e foi dali que partiram sacerdotes que o divulgaram em muitas culturas de então. Mas com o advento do Cristianismo seu culto foi desestimulado já que a religião cristã recorre aos termos “anjo” e “arcanjo” para designar as divindades. Logo, nada mais lógico do que recorrer ao arquétipo tão temido do “Anjo da Morte”, todo coberto de preto e portando o alfanje da morte, para preencher a lacuna surgida com o ostracismo do orixá ou divindade responsável por este momento tão delicado na vida dos seres.
O culto a Tatá Omulu surgiu entre os negros levados como escravos ao antigo Egito, que o identificaram como um orixá e o adaptaram às suas culturas e religiões. Com o tempo, ele foi, a partir desse sincretismo, assumindo sua forma definitiva, até que alcançou o grau de divindade ligada à morte, à medicina e às doenças. Já em outras regiões da África, este mistério foi assumindo outras feições e outros orixás semelhantes surgiram, foram cultuados e se humanizaram. “Humanizar-se” significa que o orixá ou a divindade assumiu feições humanas, compreensíveis por nós e de mais fácil assimilação e interpretação. Tatá Omulu não vibra menos amor por nós do que qualquer um dos outros orixás e está assentado na Coroa Divina, pois é um dos Tronos de Olorum, o Divino Criador. Atotô, meu pai!
Omolu é o Guardião Divino dos espíritos caídos. E é preciso muito AMOR para recolher os caídos. É preciso muito AMOR para “não desistir” dos caídos. É preciso muito AMOR para resgatar, abraçar, velar e regenerar um ser que deliberadamente se envolveu na podridão da maldade. E esta é a natureza do AMOR do Divino Pai Omolu por nós. Ele é o “último abrigo” dos caídos, a esperança da regeneração e do recomeço. Como temer esta Divindade? Não!
Não devemos temer Pai Omolu, mas sim reverenciá-LO como o Grande Velador da Vida, que atua no silêncio das eras para preservar a Vida e a Geração, garantindo o equilíbrio de toda a Criação. Ao envolver nas Suas Irradiações os seres negativados, Pai Omolu também está protegendo a existência daqueles que caminham na via reta, não podemos nos esquecer disso. Ele é quem garante “a eficácia”, digamos assim, das Divinas Irradiações de Mãe Yemanjá, como o Seu Par Divino complementar.
Nas primeiras sociedades tribais, o ser humano temia tudo aquilo que não compreendia: o ambiente inóspito, as bruscas mudanças climáticas, a aridez da terra, o sol ou a chuva excessivos, a escassez de alimentos, as doenças que não conhecia e a própria morte. Via, nessas dificuldades, “a presença de deuses terríveis que vinham castigá-lo”. Sentia-se, talvez, ”separado” do Divino, submetido e subjugado por forças que não compreendia. Mais tarde, quem sabe, atribuir caracteres humanos punitivos e até vingativos aos seus deuses foi um meio de preservar na memória das gerações futuras o culto a algo bem maior do que a existência terrena, já que tudo era transmitido de boca a ouvido.
Seja como for, o tempo passou. Hoje temos recursos para compreender muitos desses fenômenos e contorná-los. A nossa vida não é mais uma luta por sobrevivência. Estamos despertando para a compreensão de um novo existir. Doença e morte não podem mais ser vistos como “inimigos” ou “castigos”, pois são apenas estágios, são passagens, são caminhos para outras condições, situações e realidades. A continuidade da vida além da morte física já foi comprovada por várias maneiras. Ciência e Religião começam a andar de mãos dadas, cada uma no seu campo específico, na busca de explicações para muitas coisas que antes pareciam “sobrenaturais”. A Ciência já comprovou que tudo é energia; o que chamamos de matéria são apenas formas de arranjos das energias. Vida e morte são duas faces de uma mesma moeda, são arranjos, são transformações da Energia Criadora. Alguma coisa “morre” para se tornar em algo maior, mais complexo, mais aperfeiçoado, mais sutil. A “morte” é apenas o despir-se de um invólucro grosseiro, para se obter vestimenta mais elevada. O espírito que reencarna “morre” no plano astral; e o que desencarna “morre” no plano das formas para voltar ao plano espiritual.
A Vida prossegue, sempre. E todo esse processo Divino é regido pelas Divindades de Deus, que na Umbanda Sagrada chamamos de Orixás. Todos os estágios da nossa existência são regidos pelos Sagrados Orixás. Precisamos nos dedicar a compreender as atuações dessas Divindades, num exercício de fé raciocinada, para despertarmos a nossa Essência Divina e nos colocarmos como parte viva e inseparável desse Todo que é Deus e a Criação. Tudo é Deus, tudo é regido por Deus, por meio dos Sagrados Orixás. Não temos razão para temê-LOS, mas sim para reverenciá-LOS e amá-LOS, como nossos Pais e Mães Divinos.
O Orixá Omolu não pode ser temido pelos umbandistas, pois a Umbanda Sagrada nos revela que Ele é o nosso Pai da Vida, que tudo faz para nos preservar dentro das Leis Divinas que regem o Sentido da Vida e da Geração.
Como bem explica Rubens Saraceni, no processo Divino da Vida, Mãe Oxum agrega ou funde o espermatozóide com o óvulo; Mãe Yemanjá é o processo genético que inicia a multiplicação celular; Pai Ogum ordena essa multiplicação celular, que é comandada por Pai Oxóssi, direcionada por Mãe Yansã, equilibrada por Pai Xangô, estabilizada por Pai Obaluayê e cristalizada (num novo ser) por Pai Oxalá.
Neste processo, o Fator Paralisante ou Paralisador gerado por Pai Omolu é fundamental para o equilíbrio da Vida, porque Ele é o Mistério Divino que vai atuar onde houver uma geração ou criação desvirtuada ou desvirtuadora. Ele paralisa e esgota a energia caótica ou a criação degenerada ou viciada.
DEUS Cria e Gera, mas também paralisa a criação que não mais atenda aos SEUS desígnios e paralisa a geração que não atenda à SUA Vontade. Esta Qualidade Divina, representada por Pai Omolu, é um recurso para paralisar tudo e todos que estiverem criando ou gerando em sentido contrário (desvirtuado) ao que Deus estabeleceu como correto (virtuoso). E Omolu guarda para OLORUM (DEUS) todos os espíritos que fraquejaram na sua jornada carnal por se entregarem aos seus vícios emocionais.
Mas Omolu não pune ou castiga ninguém, pois estas ações competem à Lei Divina.
Os Tronos da Geração (Feminino: Yemanjá; Masculino: Omolu) regem sobre este aspecto da Gênese (toda a Vida, toda a Geração), e não apenas sobre o sexo.
Sabemos que:
Minerais afins fundem-se e dão origem aos minérios;
Elementos afins fundem-se e dão origem a novos elementais;
Energias afins fundem-se e dão origem a novas energias;
Cores afins fundem-se e dão origem a novas cores;
Seres afins (machos e fêmeas da mesma espécie) fundem-se e dão origem a novos seres.
Em todos esses processos, Mãe Yemanjá é a “Mãe da Vida”; e Pai Omolu é o Guardião Divino que paralisa tudo o que atenta contra a Vida, que paralisa todas as criações ou gerações desvirtuadas dos seres, dando estabilidade à Criação. (Do livro “Gênese Divina de Umbanda Sagrada”, páginas 233/236 e 270/272, Rubens Saraceni, Madras Editora, 2005.)
Na Umbanda, Pai Omolu é associado ao planeta Plutão e aos números 12 e 13.
Na Astrologia, Plutão é um astro que provoca atração, mas também repulsa, além de mudanças, alterações, a destruição e a reconstrução de novos ciclos na vida humana.
Na Mitologia, ele representa o inferno, o invisível e o misterioso.
No mapa astral de uma pessoa, a localização de Plutão mostra onde sua alma terá a possibilidade de “morrer para o que é inferior”, para renascer transformada e melhorada. O ser passará por essa “morte” ao descer ao próprio íntimo, para enfrentar seus medos, enxergar seus fantasmas e curar suas feridas internas, fazendo uma opção consciente por tornar-se um profundo investigador de si mesmo e de qualquer situação que possa vivenciar, de modo que possa ir além do que as aparências indicam. É uma espécie de mergulho no inconsciente, que permitirá o despertar da alma. Caso contrário, a pessoa terá de viver com seu lado sombrio, negativo, tempestuoso, destruidor e, às vezes, até vingativo.
Logo, a associação de Pai Omolu ao planeta Plutão evidencia a natureza paralisadora desta Divindade, no tocante ao que é negativo para a vida e a evolução dos seres.
Quanto ao número 12, também associado ao Orixá Omolu, é um número que, em síntese, simboliza um ciclo completo, a ordem cósmica. E isso também está implícito na atuação deste Orixá, que traz “a morte” dos atos que atentam contra a Vida e a Geração, para garantir o equilíbrio da Criação.
O doze é o produto da multiplicação do número três pelo número quatro.
O número três representa o Espírito (essência Divina), a Trindade (Pai/Mãe/Filho; espírito/mente/corpo).
O número quatro representa a matéria, a estruturação material, o plano material.
Então, o número doze simboliza a manifestação do espiritual (3) no plano material (4). É DEUS que SE manifesta na matéria.
E o número treze, igualmente relacionado ao Pai Omolu, simboliza os processos de transformação (“a morte” do que não serve mais, para um recomeço evolutivo).
História
1-Origens de Omolu.
Na antiga África, havia regiões onde os nomes Omolu e Obaluaiê eram considerados duas qualidades de uma mesma divindade. Era comum chamá-los de Omolu-Obaluaiê e de Obaluaiê-Omolu.
Em algumas tradições, tais nomes designavam duas qualidades da divindade Omolu: Obaluaiê era a designação do Omolu Jovem, mais agressivo; e Omolu era o nome reservado para o Omolu Velho, mais introspectivo e severo.
Em outras, a divindade era Obaluaiê: sua qualidade Jovem era o Obaluaiê, propriamente; e o Obaluaiê Velho era chamado de Omolu.
Havia ainda povos do continente africano que cultuavam Omolu e Obaluaiê como divindades distintas.
Essas diferentes interpretações ainda hoje podem ser encontradas no Candomblé do Brasil, por influência das respectivas matrizes africanas.
Outro nome que na África era associado tanto a Omolu quanto a Obaluaiê é Xapanã (Sànpònná), geralmente reservado como designativo do deus da varíola. Acreditava-se que ele punia os malfeitores com a terrível doença, que na época causou muitas mortes. Por isso, o nome Xapanã era temido e não poderia ser pronunciado; se alguém o fizesse, teria de lavar a boca com mel. Mas existem lendas contando que noutras regiões Xapanã era reverenciado como Curador, e não como um deus temido.
Há uma grande variedade de tipos de Omolu (guerreiros e não guerreiros; de idades diferentes; com ligações ou caminhos com outras divindades etc.), mas resumidos pelas configurações básicas do Velho e do Moço.
São muitos os nomes relacionados a esta divindade, às vezes dentro de uma mesma região. Entre eles, temos: Skapatá, Omolu Jagun, Quicongo, Sapatoi, Iximbó, Igui. Isso indica a existência de mitos semelhantes em diferentes grupos tribais da mesma região. O continente africano era imenso, e habitado por povos de culturas muito diferentes entre si, justificando-se essa variedade de interpretações.
Pierre Verger pesquisou as religiões da antiga África e lá viveu por muito tempo; assim como estudou e vivenciou o Candomblé brasileiro. Por isso, seus registros e informações são importantes, dentro do tema.
No seu livro “Orixás”, Verger fala da confusão que existe a respeito de Xapanã, Obalúayé, Omolu e Molu, pois em alguns lugares eles se misturam; enquanto em outros são considerados deuses distintos. E que Nanã Buruku é também confundida com eles.
Verger mostra que em algumas regiões há um sincretismo entre duas divindades: Sànpònná- Obalúayé, que veio do leste (onde Nanã é Nàná-Buruku) e Omolu-Molu (vindo do oeste, onde Nanã é Nàná-Brukung). As duas divindades se juntaram e tomaram o caráter único de Keto. Outra hipótese: seria uma divindade única, trazida por migrações leste-oeste (como as dos Ga, que foram de Benim para região de Accra, durante o reino de Udagbede, no fim do século XII), e que depois foi levada para seu lugar de origem com um novo nome que, inicialmente, era apenas um epíteto.
Em Tapá, a divindade Xapanã (Sànpònná) seria o correspondente a Omolu. Mas este nome também aparece associado à divindade Obaluaiê.
Os povos Jêjes, de língua Fon, tinham como divindades os Voduns. A divindade Jêje correspondente a Omolu-Obaluaiê era Sapatá-Ainon, que significa “Dono da Terra”.
O culto Jêje a Sapatá se difundiu na região Mahi, na aldeia chamada Pingini Vedji, perto de Dassa Zumê, porém trazido pelos Nagôs. Em Savalu (região ao norte do Daomé, também na região Mahi), confirma-se a versão de que os Nagôs assimilaram e difundiram esse culto. Conta-se que, liderados por Ahosu Soha, os Jêjes fugiam das regiões destruídas pelas campanhas dos reis de Abomey contra seus vizinhos do leste, vindo a estabelecer-se naquela localidade. Durante seu percurso, Ahosu Soha encontrou em Damê, no rio Weme, os Kadjanu, Nagôs originários da região do Egbadô. Estes Nagôs se dirigiam também para o norte e se juntaram a Ahosu Soha, para se estabelecerem em Savalu, com seu deus Agbosu.
Essa origem Nagô-Iorubá é também revelada por dois fatos: durante sua iniciação, as pessoas dedicadas a Sapatá (os sapatasi) são chamadas de ànàgonu (anago ou nagô); e a língua usada no ritual de iniciação e nas orações é o iorubá primitivo, ainda falado diariamente pelos Aná.
Enquanto os Jêjes cultuavam o Vodun Sapatá, os povos Nagôs (de língua iorubá) tinham divindades semelhantes, denominadas Orixás, e as chamavam de Obaluaiê e Omolu, indistintamente.
Verger comenta haver relatos sobre a existência de dois Xapanã. Um era Sànpònná-Airo, de origem Tapá. O outro teria vindo do Daomé para Oyó e era chamado Sànpònná-Boku, nome que o aproxima de Nanã Buruku e que também revelaria os laços existentes entre Obaluaiê e Nanã.
Sombrio e grave como Nanã (sua mãe) e como Iroko e Oxumaré (seus irmãos), Omolu é, portanto, uma divindade da cultura Jêje, depois assimilada pelos Nagôs.
A comprovação de que as divindades Jêjes são mais antigas que as dos Nagôs-Iorubás foi estudada por Pierre Verger, como já foi visto, com base nas guerras e movimentos migratórios dos povos africanos, quando os conquistadores muitas vezes encontravam entre os povos dominados divindades mais antigas e para eles desconhecidas, e vice-versa; e acontecia de uns assimilarem as divindades dos outros. Mas um fator decisivo apontado por Verger, também com base em registros históricos, é o fato da não utilização de instrumentos de ferro nos rituais de sacrifício animal para Omolu, Obaluaiê e Nanã; indício de que eram divindades cultuadas antes da Idade do Ferro e, portanto, também anteriores a Ogum (considerado o dono do ferro e de todos os metais).
Um aspecto interessante a ser analisado diz respeito às diferenças de arquétipo entre os mitos dos vários povos africanos.
As divindades dos Nagôs (os Orixás) são extrovertidas, alegres e têm características de comportamento (ciúmes, temperamento guerreiro, docilidade, irritação etc.) que as identificam e aproximam dos seres humanos.
As divindades Jêjes (os Voduns) apresentam um comportamento mitológico austero, grave e ameaçador, decorrente de uma visão religiosa na qual há um maior distanciamento entre deuses e humanos. Qualquer aproximação dos deuses era motivo para se temer uma tragédia; e daí vinha o conceito de que a divindade trazia a morte, a doença etc.
No encontro dessas duas culturas, os Nagôs-Iorubás passaram a ver as divindades mais sombrias dos Jêjes como fonte de perigo e temor. No caso específico de Omolu, ele seria o registro da passagem de castigos sociais, ficando relacionado a epidemias (como a varíola, que na época dizimava comunidades inteiras). Acreditava-se que Omolu castigava com violência o ser humano que faltasse com ele ou com um filho seu. Dentro dessa visão, uma negociação ou um aplacar da atuação de Omolu era difícil de obter; sendo mais provável de ser alcançada em relação aos Orixás dos Nagôs-Iorubás (menos severos e mais “humanos”).
Na tradição africana, Omolu é filho de Nanã e Oxalá.
É irmão carnal de Iroko e Oxumaré e irmão adotivo de Ogum e Exu.
Seu parentesco com Oxumaré e Iroko é observado em Ketu, onde se pode ver uma lança (okó Omolu) cravada na terra e esculpida em madeira, na qual figuram Omolu, Oxumaré e Iroko. Também é observado em Fita, próximo de Pahougnan, território Mahi, onde o rei Oba Sereju recebeu o fetiche Moru, composto de três fetiches: Moru (Omolu), Dan (Oxumaré) e Loko (Iroko).
Segundo as lendas, Omolu é, ainda, o irmão mais velho de Xangô Ajaká.
E porque Xangô destronou um Omolu velho e assumiu seu lugar, existiria uma rivalidade entre os dois Orixás. Por este motivo, filhos de Omolu não participam da roda de Xangô; no Olubajé, a grande cerimônia em honra de Obaluaiê-Omolu, não entra amalá (comida tradicional de Xangô); e na comida de Xangô não entram as pipocas (comida ritual de Omolu e de Obaluaiê).
2-Características de Omolu na África antiga e nas religiões derivadas.
Na África, Omolu está relacionado ao interior da terra (ninù ilé) e também ao fogo, já que este elemento domina as camadas mais profundas do planeta, como comprovam os vulcões em erupção.
Sua ligação é com a terra seca e quente como o calor do fogo e do sol; calor que lembra a febre das doenças infecto-contagiosas. Omulu representa a terra e o sol. Ele é o próprio sol e por isso usa uma coroa de palha que lhe cobre a face, porque ninguém pode olhar diretamente para o sol.
Toda a reflexão em torno de Omolu costuma ocorrer colocando-o como um Orixá ligado à terra, o que é correto. Mas, na visão africana, não se desconsidera a sua relação com o fogo do interior da terra, com as lavas vulcânicas, com os gases etc. Afinal, o que pode ser mais devastador que o fogo? Só as epidemias, as febres e as convulsões lançadas por Omolu. A sua matéria de origem é a terra e, como tal, Omolu é o resultado de um processo anterior.
Seu poder está extraordinariamente ligado à morte. Ele detém o poder sobre os espíritos e os ancestrais, que o seguem. Sob o seu manto de palha, Omolu esconde o mistério da morte e do renascimento. Ele é a própria terra que recebe os nossos corpos para que se tornem pó. É o Senhor dos cemitérios. Acredita-se que quando morre uma pessoa, Omolu senta-se em cima do corpo, reivindicando seus direitos. Para muitos, Omolu é o médico dos pobres. Omolu-Obaluaiê andou por todos os cantos da África, muito antes de surgirem algumas civilizações, porque é anterior à Idade dos Metais. Na sua peregrinação, ele conheceu todas as dores do mundo, superou todas e se tornou o médico dos pobres ao salvar a vida dos necessitados, muito antes que houvesse a ciência.
Assim como Nanã, Omolu é o patrono dos kauris (búzios).
Ele carrega uma lança de ferro e veste um capuz de palha da costa ornado de búzios e cabaças; traje de grande significado e indispensável em todo ritual ligado à morte e ao sobrenatural.
O ikó é a fibra da ráfia, obtida das palmas novas de Yigyogóro (a palmeira do dendê ou dendezeiro), árvore sagrada. A palha é obtida dos talos centrais da palmeira ainda nova, antes que as suas folhas se abram e se curvem.
O fato de Omolu cobrir-se com ikó e de ornar-se com búzios e cabaças mostra que estamos na presença de um Orixá ligado diretamente com a morte e que suas atuações estão envoltas em mistérios que somente os iniciados podem acessar.
Uma versão fala que essa vestimenta lhe foi dada por Ogum. Outra, que ele a recebeu de seu irmão Oxóssi. Uma terceira diz que foi Yemanjá quem a teceu. Todas as lendas narram que ele a recebeu para cobrir suas chagas e, principalmente, para cobrir os próprios olhos, pois eles contêm o brilho do sol e quem os olhasse diretamente ficaria com a visão prejudicada.
Omolu é o dono da terra.
A ele pertencem todos os grãos, e ele é quem nos dá todo o tipo de alimentos. Por isso, também é muito associado aos troncos e aos ramos das árvores.
Suas comidas secas (isto é, em que não há sacrifício animal) incluem água, milho branco, acaçá, aberém sem tempero, arroz, feijão preto com dendê, pipocas (“latipá doburu”), verduras refogadas no dendê (efó).
Entre as comidas secas, as quizilas (euós ou proibições) são: peixe de pele, feijão, caranguejo, jaca, folhas trepadeiras. E os filhos deste Orixá não podem fazer uso da cachaça.
Os animais tradicionalmente oferendados a Omolu são: porco, cabrito, galos carijós, frangos rajados, galinha d’angola, tatu, cágado, patos pretos e brancos.
Sua grande “quizila” (euó) é o carneiro.
Ele transporta o axé preto, vermelho e branco.
Quanto aos fios de contas, o colar tradicional de Omolu é o laguidibá, feito de pequenas sementes de palmeira importada, ou então talhadas em pedaços de casca de coco, sempre bem juntas e de cor preta.
Também são usados os brajás de búzios brancos, numa associação aos mortos.
Outras opções: colares de contas de louça marrom com riscas pretas; ou de contas de louça vermelha com riscos pretos.
A qualidade Omolu Jagun usa laguidibá vermelho e também contas de louça vermelhas e pretas alternadas.
Na Tradição Angola, Omolu (o Velho) usa miçangas pretas e brancas. E Obaluaiê (o Moço) geralmente usa contas pretas, vermelhas e brancas. Dependendo da qualidade, usará o amarelo, o preto e o marrom.
No Ketu, a cor branca simboliza o frio, a imobilidade, o silêncio, a criação e a morte. A
cor preta é associada à terra e aos mortos. O vermelho simboliza o sangue, a guerra, o fogo, a geração e o movimento. O marrom tem o mesmo simbolismo que o vermelho. E o amarelo é uma cor benéfica, que lembra a riqueza, a fecundidade e a fertilidade.
Na preparação dos colares nunca se usam fios plásticos, de náilon ou sintéticos.
No Culto de Nação e no Candomblé, Omolu é associado ao número 14. Por esse motivo, seus
colares são de 14 fios e com 14 firmas (ou em número relacionado a 14).
Sua saudação é ATÓTÓ- que quer dizer: silêncio, calma. Uma reverência ao Grande Orixá Velho, diante do qual devemos manter silêncio, submissão e respeito.
No Candomblé o dia consagrado a Omolu é a segunda-feira.
3- A dança de Omolu no Candomblé Jêje-Nagô
O Olubajé é a grande cerimônia realizada no Candomblé para saudar Omolu (filho do senhor), bem como Obaluaiê (rei da terra), Onilé (senhor da terra) e Sapatá e Xapanã (deus da varíola). É celebrado nas Casas de Candomblé do Rio de Janeiro e de Salvador/Bahia e nos chamados Terreiros Nagô ou Jêje-Nagô da cidade de São Paulo.
É um banquete, onde o Orixá recebe de sete a vinte e uma comidas rituais, que são colocadas em potes e alguidares, sobre folhas especiais, esteiras e panos do mais puro branco.
Participam do banquete, também recebem oferendas e dançam com Obaluaiê-Omolu os Orixás da sua família mítica.
Oxumaré (seu irmão) é o primeiro a dançar; após, vem Nanã (sua mãe); em seguida, Yemanjá (a mãe adotiva); depois, Yansã (a amiga e companheira que reina com ele sobre os espíritos dos mortos). Fechando a noite de gala, vem Oxalá, “o pai da criação”.
No dia da festa, a coluna central do espaço sagrado é envolvida por grandes laços de tecidos multicoloridos, de onde sobressaem o branco, o preto e o vermelho, que são as cores de Omolu. Da coluna central partem guirlandas de longos e numerosos fios de pipocas, formando uma espécie de “segundo teto” do barracão.
Há uma sequência de toques dos atabaques, para cada momento da grande celebração, e dependendo de qual divindade é saudada ou se faz presente entre os devotos. Pois o som carrega axé, e o ritmo tem uma natureza idêntica à natureza do Orixá. Alguns toques são acompanhados de cânticos e louvações.
Omolu dança ao toque Opanijé.
Ele dança com o corpo curvado para a terra e faz movimentos lentos ora para a direita, ora para a esquerda. Veste sua roupa de palha (azê) e carrega um cetro (xaxará) e uma lança de ferro (okó).
Durante a cerimônia, os devotos são abençoados, diversas vezes, com o derramamento de pipocas consagradas, com a finalidade de purificação e cura. [*Nota: O ritual do Olubajé é descrito de forma detalhada no livro “O Banquete do Rei – Olubajé”, de José Flávio Pessoa de Barros, Editora Pallas.]
Nas demais celebrações do Candomblé Ketu, a dança de Omolu geralmente se faz também ao toque Opanijé (usado no Olubajé, e igualmente dedicado a Obaluaiê, Onilé, Sapatá e Xapanã). É um ritmo lento, marcado por batidas fortes do Run (o atabaque maior do conjunto, de tom grave), e tem poucas cantigas, sendo na maioria das vezes apenas instrumental.
Dentro dos ritmos Jêje, a dança de Omolu acontece ao toque Vivauê.
Os ogãs precisam ter respeito pelos atabaques, pois a Omolu pertencem os couros e Ele é o padrinho de todos os ogãs. Quando se faz oferenda aos atabaques, também se faz a Omolu.
4-Em resumo:
Obaluaiê ou Omolu- Na África, esses nomes geralmente se referem às fases míticas, onde o mesmo deus seria mais jovem ou mais velho.
Omolu é a energia que rege as pestes (como a varíola, o sarampo, a catapora), as doenças de pele e as doenças transmissíveis em geral.
Também, e principalmente, é o “onixegum” ou “nixegum” médico, curandeiro, médico dos orixás- no dizer dos Candomblés da Bahia.
Omolu rege também:
*a força da terra (herdada de sua filiação a Nanã);
*a umidade da terra (porque foi adotado por Yemanjá);
*e as doenças das plantações.
Ele representa:
*o ponto de contato do homem com o mundo (a terra);
*a interface pele-ar;
*a aparência das coisas estranhas e a relação com elas.
No aspecto positivo, ele rege e cura, através da morte e do renascimento.
Em Salvador/Bahia, todo dia 16 de agosto, em frente à igreja de São Lázaro, diversos devotos de São Lázaro, de Omolu e de Obaluaiê recebem os populares banhos de pipocas (as flores de Omolu-Obaluaiê), no intuito de se livrarem de doenças e de evitá-las. Quando o assunto é doença, as promessas geralmente são dirigidas a Obaluaiê (o jovem médico), ou a Omolu (o velho médico).
Os Iorubás acreditam que este mito ou divindade nos mostra que o mal existe e que pode ser curado; mas, principalmente, que é preciso ter consciência do momento em que ele terminou, para que saibamos recomeçar depois de um sofrimento violento.
Lendas
1-Omolu se torna o grande curador
Quando Omolu era um menino de uns doze anos, saiu de casa e foi para o mundo para fazer a vida. De cidade em cidade, de vila em vila, ia oferecendo seus serviços, procurando emprego. Mas não conseguia nada. Ninguém lhe dava o que fazer, ninguém o empregava; e ele teve que pedir esmola. Mas ao menino ninguém dava nada, nem do que comer, nem do que beber. Tinha um cachorro que o acompanhava, e só.
Omolu e seu cachorro retiraram-se no mato e foram viver com as cobras.
Omolu comia do que a mata dava: frutas, folhas e raízes. Mas os espinhos da floresta feriam o menino. As picadas de mosquitos cobriam-lhe o corpo. Omolu ficou coberto de chagas. Só o cachorro confortava Omolu, lambendo-lhe as feridas.
Um dia, enquanto dormia, Omolu escutou uma voz:
“Estás pronto. Levanta e vai cuidar do povo.”
Omolu viu que todas as feridas estavam cicatrizadas, não tinha dores nem febre. Juntou suas cabacinhas de água e remédios que aprendera a usar com a floresta, agradeceu a Olorum e partiu.
Naquele tempo, uma peste infestava a Terra. Por todo lado morria gente, todas as aldeias enterravam seus mortos. Os pais de Omolu consultaram um babalaô, que lhes disse que Omolu estava vivo e que ele traria a cura para a peste. E assim foi.
Todo lugar aonde chegava, a fama precedia Omolu. Todos o esperavam com festa, pois ele curava. Os que antes lhe negaram até mesmo água de beber agora imploravam por sua cura. Ele curava a todos, afastava a peste. Então dizia que se protegessem, levando na mão uma folha de dracena (o peregum) e pintando a cabeça com efum, ossum e uági (os pós de cor branca, vermelha e azul usados nos rituais e encantamentos). Omolu curava os doentes e, com o xaxará, varria a peste para fora da casa, para que a praga não pegasse outras pessoas da família. Limpava as casas e aldeias com o xaxará, sua mágica vassoura de fibras de coqueiro, seu instrumento de cura, seu símbolo, seu cetro.
Ao voltar para casa, Omolu curou os pais. Todos estavam felizes. Todos cantavam e louvavam o curandeiro e o chamaram de Obaluayê (Senhor da Terra). Todos davam vivas ao Senhor da Terra, Obaluayê. (Reginaldo Prandi, “Mitologia dos Orixás”, 2005.)
2-Como Omolu ganhou suas chagas e foi curado por Yemanjá
Por causa do feitiço usado por Nanã para engravidar, Omolu nasceu todo deformado. Desgostosa com o aspecto do filho, Nanã abandonou-o na beira da praia, para que o mar o levasse. Um grande caranguejo encontrou o bebê e atacou-o com as pinças, tirando pedaços da sua carne.
Quando Omolu estava todo ferido e quase morrendo, Yemanjá saiu do mar e o encontrou. Penalizada, acomodou-o numa gruta e passou a cuidar dele, fazendo curativos com folhas de bananeira e alimentando-o com pipoca sem sal nem gordura, até que o bebê se recuperou. Então Yemanjá criou-o como se fosse seu filho.
3-Xapanã ganha o segredo da peste na partilha dos poderes de Olodumare
Olodumare um dia decidiu distribuir seus bens. Disse aos seus filhos que se reunissem e repartissem entre si as riquezas do mundo. Ogum, Exú, Ocô, Xangô, Xapanã e os outros orixás deveriam dividir os poderes e mistérios sobre as coisas na Terra.
Num dia em que Xapanã estava ausente, os demais orixás se reuniram e dividiram todos os poderes entre si, não deixando nada de valor para Xapanã. Um ficou com o trovão; o outro recebeu as matas; outro quis os metais; outro ganhou o mar. Escolheram o ouro, o raio, o arco-íris; levaram a chuva, os campos cultivados, os rios. Tudo foi distribuído entre eles, cada coisa com seus segredos, cada riqueza com o seu mistério. A única coisa que sobrou sem dono, desprezada, foi a peste.
Ao voltar, nada encontrou Xapanã, a não ser a peste, que ninguém quisera.
Xapanã guardou a peste para si, mas não se conformou com o golpe dos irmãos. Foi procurar Orunmilá, que lhe ensinou a fazer sacrifícios, para que seu enjeitado poder fosse maior que o dos outros. Xapanã fez sacrifícios e aguardou.
Um dia, uma doença muito contagiosa começou a espalhar-se pelo mundo. Era a varíola. O povo, desesperado, fazia sacrifícios para todos o orixás, mas nenhum deles podia ajudar. A varíola não poupava ninguém, era uma mortandade. Cidades, vilas e povoados ficavam vazios.
O povo foi consultar Orunmilá para saber o que fazer. Ele explicou que a epidemia acontecia porque Xapanã estava revoltado, por ter sido passado para trás pelos irmãos. Orunmilá mandou fazer oferendas para Xapanã. Só Xapanã poderia ajudá-los a conter a varíola, só ele tinha o poder sobre as pestes, só ele sabia os segredos das doenças. Tinha sido esta sua única herança.
Então, todos pediram proteção a Xapanã e sacrifícios foram realizados em sua homenagem. A epidemia foi vencida. E Xapanã agora era respeitado por todos. Seu poder era infinito, o maior de todos os poderes.
4-Omolu ganha pérolas de Yemanjá
Omolu foi salvo por Yemanjá quando sua mãe, Nanã Buruku, ao vê-lo doente e coberto de chagas, abandonou-o numa gruta perto da praia.
Yemanjá recolheu Omolu e o lavou com a água do mar. O sal da água secou suas feridas. Omolu tornou-se um homem vigoroso, mas ainda carregava as cicatrizes, as marcas feias da varíola.
Yemanjá confeccionou para ele uma roupa toda de ráfia, com a qual ele escondia as marcas de suas doenças. Era um homem poderoso, andava pelas aldeias e, por onde passava, deixava um rastro ora de cura, ora de saúde, ora de doença, Mas continuava sendo um homem pobre.
Yemanjá não se conformava com a pobreza do filho adotivo. Ela pensou:
“Se eu dei a ele a cura, a saúde, não posso deixar que seja um homem pobre”. E ficou imaginando quais riquezas poderia lhe dar.
Yemanjá era a dona da pesca, tinha os peixes, os polvos, os caramujos, as conchas, os corais. Tudo aquilo que dava vida ao oceano pertencia a sua mãe, Olocum, que dera tudo a Yemanjá.
Yemanjá resolveu então ver suas jóias. Tinha algumas, mas enfeitava-se mesmo era com algas, com água do mar, vestia-se de espuma e se admirava com o reflexo de Oxu, a Lua. Yemanjá se lembrou de que tinha uma grande riqueza, que eram as pérolas que as ostras fabricavam para ela. Muito contente com esta lembrança, chamou Omolu e lhe disse:
“De hoje em diante, és tu quem cuida das pérolas do mar. Serás chamado de Jeholu, o Senhor das Pérolas”.
Por isso as pérolas pertencem a Omolu. Por baixo de sua roupa de ráfia, enfeitando seu corpo marcado de chagas, Omolu ostenta colares e mais colares de pérola, belíssimos colares. (“Mitologia dos Orixás”, Reginaldo Prandi, 2005.)
Divindades assemelhadas
Hades- Divindade grega. Deus dos mortos, que morava no mundo subterrâneo. Filho de Cronos e Réia. Tem um cão de três cabeças (Cérbero), que fica na entrada do mundo subterrâneo, desempenhando a função de seu guardião, para evitar que os vivos entrassem e para assustar os mortos que chegavam. Entre os romanos, é Plutão.
Yama- Divindade hindu masculina da morte. No Ramayana, ele se passa por cachorro, salvando Rama da morte.
Anúbis- Divindade egípcia masculina da morte; o grande juiz dos mortos.
Arawn- Divindade celta da morte. Aparece sempre acompanhado de lobos brancos.
Iwaldi- Divindade escandinava. É “o anão da morte”, que esconde a vida no fundo do oceano.
Tung-Yueh Ta-ti (Tong Yue Dadi)- Divindade chinesa do sagrado monte Tai Shan e dirigente do mundo subterrâneo. É ele quem calcula, num ábaco, o tempo de vida que cada um tem na Terra. Senhor da morte, é responsável pelo desencarne.
Mictlantecuhtli- Divindade asteca. Deus da morte, Senhor de Mictlán, o reino silencioso e escuro dos mortos.
Ah puch- Divindade maia da morte, senhor do reino dos mortos.
(Fonte: O livro “Deus, “Deuses” e Divindades, Alexandre Cumino, Madras Editora, 2004.)
Características dos filhos de Omolu
No positivo, os filhos de Omolu são extremamente prestativos e trabalhadores, são amigos de verdade. São perseverantes, pacientes, amorosos e fiéis a uma causa. Para os filhos de Omolu, a justiça não é a dos homens, e sim a de Deus (Olorun).
Muito intuitivos e de mente aguçada, têm uma capacidade mental atualizada ao seu tempo.
Raramente adoecem e quando isso acontece, recuperam-se rapidamente.
São discretos e um tanto austeros. Guardam sua individualidade, mesmo no círculo de suas amizades.
Não têm grandes ambições. São despretensiosos. Tiram a roupa do corpo para agradar uma pessoa e tratam o dinheiro pelo lado do prazer, da satisfação.
Muito limpos e vaidosos, na maioria das vezes são espiritualmente muito bonitos. E mesmo que não tenham muita beleza física, exercem atração sobre as pessoas porque o seu lado espiritual, íntimo, é muito forte.
Gostam da ordem e são ótimos mestres instrutores, levando suas empreitadas até o fim, sem se importarem com o preço a ser pago. Querem que as coisas saiam da maneira que planejaram.
Sinceros, não levam desaforo para casa, respondem no ato quando se sentem ofendidos.
Nos relacionamentos amorosos, costumam sentir-se atraídos por pessoas de temperamento extrovertido e exuberante. Admiram o brilho do parceiro ou parceira, embora intimamente isso possa lhes causar um sentimento de quase inferioridade e autopunição, já que sua natureza é reservada.
Têm a tendência da mudança. Podem mudar de opinião de uma hora para outra. Parecem “dançar Opanijé”, indo de um lado para outro outro, o tempo todo, sempre procurando por algo.
Trabalhadores incansáveis, os filhos de Omolu fazem de tudo no seu templo religioso. Mas não os magoem nem os tratem com indiferença, pois quando se sentem incompreendidos são capazes de exageros e podem ter repentinas depressões.
Fisicamente, costumam ser magros e de traços físicos bem definidos.
Apreciam: o ensino, o misticismo, a magia e as coisas religiosas; roupas bem alinhadas e discretas; a boa mesa; companhias inteligentes; a vida errante e o trabalho descompromissado, como se a qualquer momento fossem partir.
No negativo, os filhos de Omolu tornam-se pessoas pessimistas e teimosas, que adoram exibir os seus sofrimentos e que procuram o caminho mais longo e difícil para atingir algum fim.
Omolu é relacionado a um arquétipo psicológico derivado de sua postura na dança: se nela Omolu esconde suas chagas dos espectadores, por outro lado sua postura pesada e lenta simboliza o sofrimento que o abate. No comportamento do dia-a-dia, tal tendência pode revelar-se de forma negativa nos seus filhos, através de um caráter tipicamente masoquista. Podem, então, sentir-se incompreendidos e se tornar céticos, reprimidos, perversos, irritantes ou vingativos.
Quando deprimidos e depressivos, agem como velhos: lentos, exigentes e rabugentos; acham que nada pode dar certo, que nada está bom. Neste caso, é difícil relacionar-se com eles.
Podem não ter muita beleza física e apresentar doenças de pele, marcas no rosto, dores e problemas nas pernas.
Mas o lado positivo dos filhos de Omolu supera, em muito, o lado autodestrutivo que a maioria deles possa ter (uns mais, outros menos).
Oferenda:
 Velas roxas; crisântemos brancos; flores do campo roxas; vinho tinto seco;
água mineral; um coco seco aberto só nos “olhinhos,” o suficiente para se colocar dentro dele um pouco de mel; um punhado de sal grosso; um punhado de terra vegetal coberta por fios de palha da costa; uma porção de pipoca coberta de coco ralado e estourada em azeite doce (ou no dendê, se for uma oferenda para o corte de magia negativa); frutas (de preferência, as de casca ou polpa escura); ervas.
Onde oferendar:
No cemitério (na parte esquerda do cruzeiro); à beira-mar.
Quando oferendar:
Para pedir a cura de doenças. Especialmente nos casos de doenças auto-imunes, infecto-contagiosas, ósseas, musculares e de pele;
Para proteção e defesa contra magias negativas, atuações mentais negativas, ataques externos etc.;
Para o equilíbrio e a cura de enfermidades e desequilíbrios no campo sexual;
Para superar vícios de difícil tratamento;
Para vencer o desamor e o desânimo diante da vida, buscando a recuperação da autoestima e da autoconfiança;
Para o tratamento de processos de obsessão e perturbações ligadas a presenças espirituais desequilibradas no campo magnético do enfermo.
Amaci:
Água de fonte com pétalas de crisântemos brancos, que devem ser maceradas e curtidas por sete dias.
Cozinha ritualística:
1-Arroz branco coberto com pipoca e enfeitado com fatias de pão preto regadas com dendê.
2-Pipoca feita no dendê e enfeitada com tirinhas de coco.
3-Feijoada: Preparar uma feijoada comum e depois temperar com dendê e cebola roxa. Enfeitar com tirinhas de coco.
4-Feijão preto com camarão: Cozinhar em ponto firme e apenas em água um punhado de feijão preto. Escorrer a água e reservar. Em separado, refogar no dendê um punhado de camarão fresco (ou camarão seco previamente dessalgado), cebola roxa picadinha e temperos (cheiro verde, orégano etc.). Juntar o feijão cozido e refogar ligeiramente. Servir num alguidar ou num prato de papelão forrado com coco (ralado ou em tirinhas), ou então com folhas de taioba. Pode-se fazer apenas o feijão com a cebola, passados no dendê (sem o camarão).
5-Carne de porco: Um pedaço de carne de porco, um pouco de dendê e meio quilo de cebola roxa. Aquecer o dendê e passar a carne de porco nesse azeite, só para dourar. Juntar um pouco de água para cozinhar levemente a carne. Cortar a cebola e passar no dendê quente, rapidamente, para não murchar. Colocar a carne num alguidar ou num prato de papelão forrado com folhas de taioba e cobrir com a cebola.
6- Aberém: Pequenas porções de massa de acarajé (ou de milho), sem sal. Enrolar em em folha de bananeira e cozinhar em banho-maria. Depois, regar com mel (ou dendê).
Alguns Caboclos de Omolu:
Caboclo Terra Roxa (Omolu e Nanã), Caboclo Rompe Terras (de Ogum e Omolu), Caboclo Africano, Caboclo Folha Seca (regência de Oxóssi e Omolu), Caboclo Cipó Preto (Oxóssi e Omolu), Caboclo Arranca Toco (arranca= Ogum; toco= árvore que secou= Omolu); Caboclo Quebra toco (quebra= Ogum; toco=Omolu), Caboclo Pedra Preta (Oxalá e Omolu).
Alguns Exus de Omolu: 
Exu da Terra (Omolu e Obá); Exu Terra Preta; Exu Treme Terra (Omolu e Obá); Exu Caboclo (=da terra); Exu do Toco; Exu Trinca Ferro (de Ogum e Omolu: porque trincar o ferro é reduzi-lo a pedaços; vai estilhaçar, vai soltar “pó de ferro”); Exu Pedra Preta (Oxalá e Omolu); Exu do Pó; Exu Sete Poeiras (de Omolu e Iansã: porque a poeira é terra que vai pelos ares, que se movimenta com o vento); Exu Toco Preto.

 

TRONO
Masculino da Geração.
Linha/Sentido
Geração
Fator
Fator Paralisador- tem a função de paralisar tudo o que atenta contra o Sentido da Vida e da Geração, para garantir a estabilidade e o equilíbrio da Criação.
O Fator Paralisador, na sua atuação, engloba: o Fator Puro Estabilizador (que dá estabilidade à Criação); e o Fator Misto Geracionista (que gera as condições para a multiplicação de tudo, inclusive a dos Fatores dos demais Orixás).
Essência
Telúrica (da terra).
Elemento
Primeiro Elemento: terra.                                                    Segundo Elemento: água.
Polariza com
Yemanjá
Cor
Roxo.
Também o branco, o preto e o vermelho juntos.
E ainda o branco e o preto juntos.
Fio de Contas
Contas de porcelana roxas; ou brancas, pretas e vermelhas; ou brancas e pretas; ou contas feitas de rodelas bem pequenas de casca de coco (escuras).
Ferramentas 
O azê (vestimenta de palha); o cajado (xaxará); a lança de ferro (okó); os búzios.
Ervas
1-Fonte: Adriano Camargo:
a) Quentes ou agressivas: Alho desidratado; casca de alho; casca de cebola; carapiá; cipó cabeludo; chorão; dandá; erva de bicho; garra do diabo; mamona roxa; olho de cabra; orégano; peregum roxo; picão; pinhão roxo; valeriana.
b) Mornas ou equilibradoras: Alcachofra (folhas); angélica (raiz); capim rosário; chapéu de couro; cravo da Índia; sete sangrias; trapoeraba (ou coração roxo); manjericão (comum); manjericão roxo; noz de cola (obi seco); verbena; folhas de beterraba; catinga de mulata; ipê roxo; lantana; folha de fogo.
2-Outras: Acônito; agoniada; alamanda; alfazema de caboclo; assa-peixe; babosa (ou pau d’alho); beldroega vermelha; bomina; café do mato; cambará; canela de velho; camena coirana; capixingui; carobinha do mato; casadinha; cebola do mato; cordão de frade (ou de São Francisco); cotiveira; douradinha; erva de passarinho (ou erva de andorinha); erva moura; figueira (folhas); folhas de fumo; folhas de lentilha; folhas de milho; folhas de tremoço; gervão roxo; guararema; guanxuma; hortelã brava; jenipapo; manjerona; mastruz (ou mastruço); mololô; musgo; palha da costa; quitoco; rabujo; sabugueiro; senza; tamarindo (folhas e casca); vassoura preta; velame do campo.
Símbolos
O cruzeiro do cemitério; a foice (alfanje); a terra; as pipocas; a palha da costa.
Ponto de força na Natureza
O cemitério (calunga pequena);
O ponto à esquerda do cruzeiro do cemitério;
O mar (calunga grande).
Flores
Crisântemos; galhos secos de figueira e de pitangueira; tinhorão; inhame preto; cipó São João; cravo-de-defunto; todas as flores brancas; todas as flores roxas.
Essências
Cravo, manjericão, café, alfazema.
Pedras
Pedras: As pedras roxas e algumas pedras pretas, tais como ônix e ametista da Bahia (ou cacochinita). Seus principais minerais são: ferro, manganês, potássio e zinco, como componentes internos e agentes corantes destes Cristais. (Fonte: Angélica Lisanty.)
Pedra mais usada: Ônix preto.  Dia Indicado para a consagração: 2ª feira. Hora indicada: meia noite.
Metal e Minérios
Metal: Chumbo.
Minério: Molibdenita (Molibdênio).  Dia indicado para a consagração: 6ª feira.  Hora indicada: 18 horas. (Fonte: “Código de Umbanda”, Rubens Saraceni, Madras Editora.)
 Chakra
Básico ou Raiz
 Saúde
Coluna vertebral, os rins, o aparelho reprodutor e os membros inferiores. As musculaturas que podem ser envolvidas por um bloqueio nessa região são: glúteos, diafragma pélvico, músculos internos da barriga e da região lombar (abdominais, lombares, lombo sacrais e glúteos médios). Pessoas com estes bloqueios podem apresentar hemorróidas, dores lombares, tensão nas pernas e pés, problemas nos aparelhos urogenitais e dificuldades sexuais.
Ligado às glândulas supra-renais, este chakra é o responsável pela absorção da Kundalini (energia da terra) e pelo estímulo direto da energia no corpo e na circulação do sangue. Está muito ligado às sensações físicas. Relacionado diretamente com os membros inferiores e com os instintos físicos. Atua na irrigação dos órgãos sexuais. Por meio dele é que entram as energias que nos conectam com a terra e com o mundo exterior.  Ligação com a terra, com o bem-estar físico, com o instinto de sobrevivência, com a vitalidade e com a sexualidade.
Está diretamente ligado à vontade, pois nos dá motivação e energia para agir, fazer, realizar, ganhar nosso sustento, enfrentar obstáculos etc.
Na época atual, encontra-se passivo, na maioria dos indivíduos, pois só entra em atividade pela vontade dirigida e controlada pelo iniciado. Por que isso? Porque o chakra Básico responde ao aspecto vontade. Da mesma forma que o princípio “vida” está situado no coração, o princípio da vontade está situado no chakra básico, na base da coluna.
Seu principal aspecto é a inocência, qualidade pela qual experimentamos a alegria pura, infantil, sem as limitações do preconceito e dos condicionamentos, e que nos dá dignidade, equilíbrio e um enorme senso de direção e propósito na vida. É apenas simplicidade, pureza e alegria.
Portais de cura (cf. Adriano Camargo): Potes com terra escura, velas roxas e brancas, peregum roxo (quatro, sete, ou oito folhas), raízes escuras (dandá, valeriana).
Dia da Semana
Na Umbanda: terça-feira, dia regido por Plutão.                        No Candomblé: segunda-feira.
Planeta
Plutão
Saudação
Salve Nosso Pai Omolu! Resposta: “Atotô, Omolu!”; ou então: “Omolu-Yê Tatá!”
Bebida
Vinho branco licoroso, vinho tinto seco, vinho moscatel, aguardente, água mineral, suco de laranja lima, suco de limão, água de arroz (lavar o arroz, deixar de molho em água e utilizar esta água), sumo de ervas (usar as ervas do Orixá), dendê, mel.
Animais
Cachorro, porco, cabrito, galos carijós, frangos rajados, galinha d’angola, tatu e cágado, patos pretos e brancos.
Comidas
Pipoca; milho, nabo; verduras refogadas no dendê (taioba, bertalha, espinafre etc.), chamadas genericamente de efó; abacaxi, ameixa preta, amora, banana da terra, cereja preta, coco seco, figo, feijão preto, fruta do conde, fruta pão, gengibre, goiaba branca, jamelão, jabuticaba, laranja lima, limão, mandioca, maracujá, uva preta, tamarindo, frutas ácidas em geral, melão.
Números
Na Umbanda: 12 e 13.                                                                 No Candomblé: 14
Data Comemorativa
02 de novembro, Dia de Finados.
Sincretismo
Na Umbanda: São Bento.                                                         No Candomblé costuma-se sincretizar Omolu com São Lázaro e com São Roque.
Incompatibilidades
No Culto de Nação e no Candomblé as proibições (euós ou quizilas) guardadas em relação ao Orixá Omolu são: o carneiro (a grande quizila); os sapos; os peixes de pele; o caranguejo; a jaca; as folhas trepadeiras; a claridade. Seus filhos não devem fazer uso da cachaça.
Qualidades
 No Candomblé, Omolu é associado ao número 14. Em consequência, considera-se que são 14 as suas Qualidades.
As encontradas com mais frequência são estas:
1-Akavan- Tem ligação com Oyá. Veste estampado.
2-Azonsu/Ajunsu- Tem fundamentos com Oxumaré, Oxun e Oxalá. Carrega lança e veste branco.
3-Azoani- É jovem. Veste vermelho, palha vermelha Tem caminhos com Iroko, Oxumaré, Yemanjá e Oyá.
4-Arawe/Jagun- Tem fundamento com Oyá e Oxalá.
5-Ajoji / Jagun- Tem fundamentos com Ogun e Oxagian.
6-Avimaje-Tem fundamento com Nanã, Ossain e Odé.
7-Ajoji /Segí/Jagun- Tem ligação com Yemanjá, Oxumaré e Nanã.
8-Afomam ou Afenan- Veste a estopa e carrega duas bolsas de onde tira as doenças. Veste-se de amarelo e preto. Todas as plantas trepadeiras lhe pertencem. Tem caminhos com Oxumaré e com Ogun, de quem é companheiro. Dança com o corpo curvado, cavando a terra, como Intoto, para depositar os corpos que lhe pertencem.
9-Agbagba Jagun- Tem fundamento com Oyá.
10-Itubé Jagun/Jagun ou Ajagun – Tem caminhos com Oxalá. É jovem e guerreiro. Leva na mão uma lança chamada okó. É vingativo e ambicioso, luta para alcançar posição alta sem ver de que maneira. Tem caminhos com Ogunjá, Oxaguian, Ayrá, Exu e Oxalufan. É cultuado no dia 17 de dezembro. Veste branco e preto e suas contas são rajadas. Em seu cântaro (moringa de uma asa só) se colocam jóias e dinheiro. Não come feijão preto. Sua comida inclui miúdos de boi no azeite doce (e não em dendê, como a dos outros). Ele é o único que come igbin (caracol ou caramujo, que é tradicionalmente oferecido para Oxalá, sendo popularmente chamado de “boi de Oxalá”).
11-Ìpòpò: Tem forte fundamento com Nanã. Usa biokô.
12-Tetu / Etetu Jagun: É jovem e guerreiro. Recebe oferenda com Ogum e Oyá. Veste  branco, usa biokô.
13-Agòrò: Veste branco, usa biokô com franjas de palha
14-Itetù Jagun: Ligado a Yemanjá e Oxalá.
Aparecem ainda vários nomes, títulos e qualidades parecidas: Ajágùsí, Topodún, Janbèlé, Parú, Polibojí, Akarejebé, Aruajé, Ahoye, Olutapá, Sapatá Ainon, Wari Warún etc.
Algumas Casas fazem ainda referência às seguintes Qualidades de Omolu:
1-Saponan- É o mais antigo. Deus da varíola e das doenças de pele. Tem caminhos com Oxóssi. Seu nome não deve ser pronunciado. Na África, quando se fala seu nome, coloca-se mel na boca. Recebe oferendas com Exu e tem fundamento nas encruzilhadas. Suas contas são brancas e pretas.
3-Possun- No Jêje é louvado como Azanssun, ligado ao tempo, às estações do ano e ao culto da terra. É o verdadeiro dono do cruzeiro. Seu assentamento é feito no barro vermelho. Veste-se de vermelho, preto e branco. Na perna esquerda leva uma pulseira de aço.
No Keto e na Angola é reverenciado como Tempo. Recebe oferendas diretamente na terra. Sua dança mostra claramente sua ligação com Exu e com a terra: dança com garras nas mãos, como se estivesse cavando a terra ou retalhando alguma coisa. Animais para oferenda: cágado e tatu. Tem caminhos com Intoto, Iroko e Oyá.
4-Intoto- Suas contas são em vermelho e preto. É um Orixá cultuado apenas em seu assentamento (não “vira” na cabeça de ninguém). Representa o fundo da terra. Recebe oferendas com Ewá, Oyá e Iku. Seus assentos são cultuados ao lado de Nanã e Yemanjá. Não aceita a faca, assim como Nanã. Suas oferendas sempre levam dendê e são feitas no campo que tenha barro. Animais para oferenda: porco preto, frangos, pombos de cor e galinha d’angola.

 

Extraído de: www.colegiodeumbanda.com.br/ www.seteporteiras.org.br